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Missa do 2º domingo da quaresma

A liturgia do segundo domingo da quaresma nos remete para a comunicação com Deus através da fé, isto é, você ligado em Deus, Deus ligado em você, como dois amigos que não conseguem ficar longe um do outro. Você pode ter um exemplo parecido aqui.
Complementando nossa caminhada destes tempos em que somos exortados por Jeremias e Isaías a voltarmos à presença de Deus, e, também, pelo Evangelho de Jesus ao qual, relembramos a experiência em viver Deus no pequeno trecho do 1º domingo: "1Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão, e, no deserto, ele era guiado pelo Espírito" (Lc 4,1).  

Na primeira leitura (Gn 15,5-12.17-18): Abrahão ao se colocar diante de Deus permitiu uma das mais belas revelações da misericórdia de Deus, em que ele, se vendo pecador, e não como simples pecador, mas como alguém culpado com a pena da maldição da esterilidade, portanto, se vendo como um homem condenado pela iniquidade humana, pela culpa sua e de seus pais, voltou a Deus pela fé, com isso, pelo amor incondicional de Deus, isto é, pela gratuidade e não pela retribuição, alcançou todo perdão, ou toda a justiça:

6Abrão teve fé no Senhor, que considerou isso como justiça.

Toda a justiça de um homem não quer dizer aquela praticada por pessoa que cumpre ao pé da letra todas as leis, mas aquele que tendo fé, faz a vontade do Senhor, neste caso, Abrahão teve fé no Senhor, e a justiça se cumpriu, ou seja, na relação entre homem e Deus, algo maravilhoso aconteceu, a misericórdia de Deus, que limpa Abrahão de toda a sua culpa: 18Naquele dia o Senhor fez aliança com Abrão (Gn 15,18).

A fé de Abraão é a confiança numa promessa humanamente irrealizável. Deus lhe reconhece o mérito deste ato (cf. Dt 24,13; Sl 106,31), põe-no na conta de sua justiça, sendo "justo" o home cuja retidão e submissão o tornam agradável a Deus. São Paulo usa o texto para provar que a justificação dependende da fé e não das obras da Lei: mas a fé de Abraão guia a sua conduta, é princípio de ação, e são Tiago pode invocar o mesmo texto para condenar a fé "morta" sem as obras da fé (ZAMAGNA, 2002, p. 53).

A palavra misericórdia a princípio nos parece que é acolhida pelos fiéis de forma superficial por ser recorrentemente citada nas celebrações, por isso, para chamar atenção da equipe litúrgica, faremos um destaque nela, não preocupado com seus conceitos etimológicos, literais, teológicos, axiológicos ou ontológicos, mas, extraídos da nossa vivência litúrgica.

Vamos considerar que não existe duas palavras para dizer a mesma coisa, cada palavra tem seu sentido próprio, assim misericórdia pode remeter ao perdão, mas, o perdão tem seu sentido próprio, assim como a misericórdia também tem o seu.

Quando o homem rompe com Deus, perde sua comunicação com ele, por sua vez, não consegue por si encontrar os seus caminhos e passa a viver errante, sem um rumo, pelos caminhos que o levam à morte, e  diria, morto vivo, pois muitas vezes ele está biologicamente vivo, mas psicologicamente morto, a misercórdia de Deus é o resgate desse homem dos caminhos da morte, sem levar em conta seus erros passados, ela é divina incondicional, abrangente e integral, restabelecendo sua comunicação com Deus a partir da aliança do homem com Ele.

O perdão se faz por ato de benevolência, de compreensão, de complacência, de tolerância, de caridade, sobre algum ou alguns fatos praticados por alguém que nos ofendeu. Perdoar e apagar as ofensas, é um ato tipicamente cristão, considerado como Graça, como nas palavras de Dom Carmo Rhoden: a graça é o ofendido ir ao encontro do ofensor. O general pede desculpa para o soldado? O patrão pede desculpa para o empregado? Pois, então, a graça é o ofendido ir ao encontro do ofensor (RHODEN, 1997;).

O perdão é característica da humanidade (sobre humanidade ler mais aqui) que o torna semelhenta a Deus, pela Graça, por isso, o perdão é o rosto divino do homem, ao passo que, na misericórdia, temos o rosto humando de Deus, pois, Ele, médico ferido, tendo experimentado nossas dores, conhece com a própria dor os nossos sofrimentos e fraquezas (Hb 5,1-2), por isso, a misericórdia é de Deus que muito além das limitações do homem que deve perdoar um, ou setenta vezes sete (Mt 18,22), a misericórdia de Deus lava toda a nossa iniquidade, para isso, Deus espera de nós apenas o propósito de voltar à Ele, nosso amor voltando ao Amor.

O Salmo 26: nos leva a viver a fé, na fé, e louva:

8Meu coração fala convosco confiante,* é vossa face que eu procuro.

Segunda Leitura (Fl 3,17-4,1): São Paulo em seu apelo nesta liturgia, como que reforçando o trabalho de Jeremias na liturgia do 4º Domingo em que ele é enviado para levar a Palavra para um povo de coração duro, e depois no 5º domingo a experiência de Isaías com Deus ao receber de pronto a Palavra levando-o à disponibilidade: eis me aqui, envia-me, nos convida a permanecer em Deus, ao qual destacamos o seguinte:

18Já vos disse muitas vezes, e agora o repito, chorando:
há muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo.

4,1Assim, meus irmãos, a quem quero bem e dos quais sinto saudade, minha alegria, minha coroa, meus amigos, continuai firmes no Senhor. 
 
Evangelho (9,28b-36): Fazendo uma linha do tempo de nosso retiro: iniciamos com a acolhida da Palavra, que deve ser real e não apenas mental, depois no domingo seguinte, nos apresentamos diante do Senhor, e, agora, nesta comunicação em Deus e homem, como dois amigos, nasce a  proposta para selar uma aliança conosco, para isso, da parte de Deus ele apresenta a sua promessa, da parte do homem ele apresenta a fé
Da parte de Deus, Ele fala diretamente aos discípulos Pedro, João e Tiago:

35Da nuvem, porém, saiu uma voz que dizia: 'Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!'

Da parte dos homens somos exortados por São Paulo:
continuai firmes no Senhor (4,1)

A temática das músicas a serem trabalhadas na liturgica nos remete à duas linhas: A primeira é a misericórdia o amor incondicional de Deus estabelecida pela comunicação Divino-Humana, a segunda é a confiança do homem em Deus.


Múscas para a Missa


Canto de Entrada: Fala assim meu coração: L.: Eurivaldo S. Ferreira e Reginaldo Veloso M.: Eurivaldo S. Ferreira - CF  2014.

Ato penitencial: Convite gentil - D.R.

Aclamação: música de José Weber e Reginaldo Veloso - Hinário Litúrgico
                     Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor! (Bis).
                 De uma nuvem brilhante falou Deus, o Pai:
                 o meu Filho querido, o povo, escutai!

                 Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor! (Bis). 


Oferendas: Volta o teu olhar Senhor - L.: Fr. Telles Ramon do Nascimento, O. de M.M.: Fr. Telles Ramon do Nascimento, O. de M.e João Paulo Ramos Durães - CF 2011.

Santo: opcional ou louvação quaresmal.

Comunhão: O Pai, teu povo busca vida nova: de Pe. José Antonio de Oliveira e Pe. José Carlos - CF 2013.

Final: Hino da CF 2016 


Referências
RHODEN, Dom Carmo João. A graça. In Retiro da peregrinação dos leigos cristãos - PLC. Taubaté, 1997.
ZAMAGNA, Domingos. Bíblia de Jerusalém: nota explicativa b do versículo de Gn 15,6. Paulus, 2002).

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