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Acusamos o governo fazendo exatamente a mesma coisa que ele

O povo grita... governo fascista, não quer ser transparente, não quer divulgar a verdade, porque é muito fácil apontar o erro dos outros, porque é um jeito de esconder os próprios erros, como já diziam os perversos “a melhor defesa é o ataque”.

E como ponto de partida, nos valemos das palavras do Jornalista Ricardo Amorin, no seu perfil de rede social, de domingo 07 de junho, quando comentou a solução governamental como: se se identifica a febre, quebre o termômetro e acabou o problema, e, ainda, as palavras do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na entrevista concedida à Globonews nesta segunda feira, 08 de junho, ao dizer que o governo quando se deparou com a má notícia, deu como solução, matar o carteiro, pode-se dizer que tudo isso, é o efeito da gélida indiferença e severo egocentrismo da sociedade líquida de Zygmunt Bauman, em que nada importa, a não ser o eu mesmo, dentro de um mundo que se tornou ilusão na virtualidade, ou, realidade introspectiva, como chamada por Emanuel Castells em Sociedade das Redes.

Temos de ter a coragem e coerência de encarar que o governo é o próprio povo, e se o governo age assim, é porque o povo age do mesmo jeito, por isso se há um sonho de ser uma Nação que preza pela sociedade desenvolvida, justa e solidária, é preciso começar a mudar a nós mesmos.

Mas, se temos coerência com nós mesmos, é preciso admitir que agimos exatamente igual a esse governo, ao manter os olhos focados na politicagem sórdida de um governo, como forma de esconder o que somos, pois pregamos o que entendemos ser o certo, mas no fundo de nós, quando alguém vem nos chamar a atenção, ou, alguém mostra algum erro nosso, nós usamos a nossa arma de quebrar o termômetro, ou de matar o carteiro, o desprezamos, o ignoramos, ou fingimos indiferença.

Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer... Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos (Rubens Alves)[1].


E já que se falou de Rubens Alves, o melhor exemplo disso vem da profissional que mais sobre humilhação por cumprir esse papel, a dos professores dignos, isto é, aqueles que querem ensinar, pois, é rejeitado, criticado e denunciado nas ouvidorias ao cobrar comprometimento e coerências de seus alunos como no exemplo abaixo:

Um dos adolescentes arremessou uma pochete na direção do profissional enquanto ele escrevia no quadro. Após ser questionado pelo professor se a intenção era atingi-lo, um outro aluno, em tom de deboche, respondeu: "'Peraí' que agora vai acertar".

O aluno ainda chegou a ser questionado por um colega de turma. "Vai matar o professor, cara? Faz isso não. O cara te dá aula, o cara é maneiro", afirmou o estudante, que ouviu a resposta: ‘O cara nunca mais vai dar’ (EXTRA, 2018)[2].

Os professores são repreendidos por que falam o que se deve ouvir, mas a sociedade da era digital prega que se deve falar a ilusão, isto é, somente o que se quer ouvir: sobre tais episódio demonstra que os educadores, cada vez mais desvalorizados, precisam de apoio, inclusive da instituição que trabalham (PORTAL G1, 2018).


Ao se trazer em si que “no fundo somos mais bonitos”, estas palavras são transformadas cotidianamente, na arma da indiferença de cada um, que quebra todos os termômetros e, que mata todos os carteiros, criando uma blindagem do ego dizendo para si mesmo o velho ditado “nada que vem de fora me atinge”, e passa a desprezar e a ignorar todos aqueles que possam dizer algo que não lhe agrade, do tipo, não me enche… ou, estou farto disso, pois, se é verdade, se tornou mentira relativa, se não é possível desconstituir ignore, ainda que seja Jesus Cristo em pessoa falando para o cristão, como aconteceu com Santa Margarida de Antioquia, Santa Bárbara, São João da Cruz, que a ilusão do: no fundo somos mais bonito, pode se entender como um ataque à Igreja ao invés de encarar a sua corrupção, que, igualmente aos católicos, acontece também com os protestantes, ateus, judeus, pois, todos vivem o mesmo status social.


Por isso, a nós é cobrada a coerência por Deus na liturgia deste dia ao dizer: “Filhos dos homens, até quando fechareis o coração? Por que amais a ilusão e procurais a falsidade? (Salmo 4,3 ), pois, Ele mesmo já disse que quebramos o termômetro para ignorarmos a febre, e matamos o carteiro porque rejeitamos a verdade: Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos como uma galinha reúne seus pintainhos debaixo das asas, mas não quisestes! (Mt 23, 37-39)


Pois não acredite no discurso da maquiagem do marketing social de que “vai passar”, e nas introspectivas viagens digitais da sociedade líquida, de que mergulhados no egocentrismo, é só clicar ou apertar um botão que tudo passa, a

exemplo da mulher samaritana que não se comoveu com a sede de Jesus, pois, a vida não faz partos por cesariana, pois é coisa de homem, e, se não se encarar o parto natural, não se nasce.

Assim, não rejeites a verdade, ainda que lhe pareça dura, pois, é, e será daqui pra frente, e para viver, precisará saber localizar a fonte que saciará a tua sede neste deserto.


Se é certo que não concordamos com o sórdido fascismo de um governo, certo é também que não devemos fugir da verdade que vem ao nosso encontro, para escolher em seu lugar a ilusão e a falsidade “Filhos dos homens, até quando fechareis o coração? Por que amais a ilusão e procurais a falsidade?”, pois, senão certo será o ditado de que cada povo tem o governo que merece.

Como me sinto na inconveniência de fazer o papel de carteiro nesta hora, e melhor sair na Disparada com Jair Rodrigues, pois quem sabe deixo de ser carteiro e de boi, me torne boiadeiro:


Se você não concordar,
não posso me desculpar.
Não canto prá enganar,
vou pegar minha viola,
vou deixar você de lado,
vou cantar noutro lugar.


Referências

ALVES, Rubens. Texto de Rubens Alves. Disponível em https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4132953/mod_resource/content/1/Texto%20de%20Rubem%20Alves.pdf. Acesso em 09 jun. 2020.

EXTRA – Carderno Notícias, 20/09/2018. Após humilhar professor em escola de Rio das Ostras, aluno pede desculpas em vídeo: 'Isso é coisa de vacilão'. Disponível em https://extra.globo.com/noticias/rio/apos-humilhar-professor-em-escola-de-rio-das-ostras-aluno-pede-desculpas-em-video-isso-coisa-de-vacilao-23085353.html. Acesso em 09 jun. 2020.

PORTAL G1 – Região dos Lagos. Caso de professor humilhado no RJ exemplifica naturalização da violencia em sala de aula diz especialista. Disponível em https://g1.globo.com/rj/regiao-dos-lagos/noticia/2018/09/21/caso-de-professor-humilhado-no-rj-exemplifica-naturalizacao-da-violencia-em-sala-de-aula-diz-especialista.ghtml. Acesso em 09 jun. 2020.


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