A quaresma é o retiro de quarenta dias na busca pela formação de um coração contrito. Formar um coração contrito não se trata de agir com mero comportamento piedoso com jejuns e sacrifícios, mas de uma opção de vida, que nos chama a dizer sim ao Amor, dizer sim ao Bem, escolhendo seguir a estrada que edifica, que dá a vida, que constrói, que respeita, que não mata, não usurpa, não destrói, não se corrompe, dizendo sim ao projeto de Deus.
O homem é uma das espécies do reino animal, cuja estrutura biológica possui um sistema orgânico que se assemelha à vida de muitas outras espécies, daí talvez a razão do questionamento do salmista (Salmo 8):
4 Quando vejo o céu, obra dos teus dedos,
a lua e as estrelas que fixaste,
que é o homem, para dele te lembrares,
e um filho de Adão, para vires visitá-lo?.
É intrigante essa posição do homem no mundo, pois enquanto, as demais espécies para se manterem vivas se alimentam dos frutos da terra, ao homem foi concedida a incrível graça de também se alimentar do Espírito Santo (Ef 2, 1.4-5.8.10):
5 quando estávamos mortos em nossos delitos,os vivificou juntamente com Cristo - pela graça fostes salvos!
8 e isso não vem de vós, é o dom de Deus;
10 Pois somos criaturas dele, criado em Cristo Jesus para as boas obras que Deus já antes preparara para que nelas andássemos.
Essa graça é chamada de humanidade pois, diferencia o homem das demais espécie que existem neste universo e gera nele características que o torna semelhante a Deus:
6 E o fizeste pouco menos que um deus,
coroando-o de glória e beleza.
7 Para que domine as obras de tuas mãos
sob seus pés tudo colocaste: (Salmo 8).
Para as boas obras fomos criados (Cf. Jo 14,26), para o bem, para viver o amor, este é o caminho da vida, que faz com que o homem atue sobre a natureza, produzindo fenômenos que que se faz confundir com as próprias obras do Criador, como na missão da Voyager (1) que, atualmente, se mantém em missão exploratória fora do sistema solar, viajando por quase quatro décadas, atravessando todo esse sistema, e ainda assim, de uma distância inimaginável, continua a mandar informações para o homem, servindo seus propósitos.
Esse fenômeno é único, próprio da espécie humana, decorrente da arte que embeleza o universo, das boas obras da humanidade, característica que diferencia o homem de todas as outras espécies viventes, pois, nenhuma outra seria capaz de feito igual.
E essa característica que torna o homem quase um deus se dá pela graça do sustento pelo Espírito e não pela criatividade e habilidades intelectuais:
8 Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isso não vem de vós, é o dom de Deus;
9 não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho (Ef. 2, 8-9).
Mas esse dom não está no universo material, como uma luz vindo do sol para produzir a fotossíntese, ou das gotas de chuva que regam a terra, ela alimenta o homem pelo Amor, e, muitas vezes, o homem, despreza o alimento do amor para se alimentar das gorduras da cobiça pelas coisas dos outros e acúmulos de bens, dos colesteróis malígnos disfarçados naquele chupa-cabra que furta o sinal da tv por assinatura, ou no crack para liberar o sistema operacional do computador; da obesidade da corrupção, dos alimentos que contém as parasitas da indiferença, da covardia, das bactérias da competição e traições.
Ao conjuntos desses alimentos maléficos para o coração do homem, que o expõe a um infarto da alma, se deu o nome de pecado. O pecado não é uma regra específica de determinada igreja, mas a ação que caracteriza uma má-conduta que produz dano ao próximo, comportamento contrário ao do dom das boas obras (2). Por isso, é contrário ao Amor, e assumí-lo deliberadamente é o mesmo que dizer não à graça que alimenta o dom da humanidade, e de divino, o homem perde a sua qualidade de humano, e então, se rebaixa ao nível mais inferior de que qualquer outro animal, para se tornar a pior de todas as outras espécies, pois sua conduta destrói e extingue as demais, combate e mata a si próprio e as demais espécies de vida, pondo em risco toda biodiversidade.
Diante da má-alimentação que coloca em risco o coração do homem, a quaresma torna-se um tempo favorável, que através de um retiro de quarenta dias, como a um spa que tem o propósito de cuidar da saúde, desintoxicando o seu organismo, oferece uma dieta para que ele busque novamente o alimento que revigore o dom de ser humano e retorne à humanidade. Esta dieta é chamada de contrição, e é baseada na prática do bem, no amar e se deixar ser amado, da alegria da vida, que oferece a garantia de restabelecer a saúde psíquica, ou, para muitos, da própria alma, com o vigor capaz de resplandecer a sua vida tão forte, que o torna quase um deus (Cf. Jo 14,12), em cuja arte das suas mãos se diviniza na doce canção que harmoniza o universo das coisas criadas que também é chamada de louvor da criação.
1 SIQUEIRA, Etevaldo. Direto da Nasa: testemunho pessoal sobre a Voyager 1
Comentários
Postar um comentário