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Nietzsche o novo Lutero: realidades e ilusões


1. A ilusão da luz


De tudo o que se pode dizer sobre as criações e invenções tecnológicas do homem, chamadas de artefatos, que quer dizer artificial, pois, o invento e a inovação a partir da tecnologia do homem, é artificial, ou, não natural,  tem um limite de autonomia.

Assim, se você pensa em um carro, deve se lembrar que ele tem um tanque com um limite de combustível, que vai definir o limite de sua autonomia, assim também é o avião, os mecanismos robóticos, os satélites artificiais, as estações no espaço, não devendo deixar de se homenagear aqui, a sonda Voyager, que mostrou uma incrível capacidade de autonomia, embora o fim desta autonomia já foi declarada pelo próprio homem.

No entanto, ao compararmos os artefatos do homem que são artificiais, com a sua própria vida humana que é natural, a exemplo de suas invenções e inovações, a natureza nos revela que o homem também tem um limite para a sua autonomia, ou seja, ainda que ele seja superior a sua Voyager, há um momento em que a sua energia chega a um ponto crítico, que preferimos chamar de chegar a um portal, ou, a um posto de abastecimento de combustível.

Isto vem revelar que o homem não tem uma autonomia absoluta, ou seja, ele depende de uma outra fonte para manter a sua energia, por exemplo, ele por si só não determina que a sua pressão sanguínea permaneça estável quando ela está alta ou baixa demais, ele por si só, não determina quanto de elementos vitais dos alimentos sejam absorvidos por seu corpo quando está com anemia, ele por si só, não determina que a sua temperatura permaneça estável diante de um movimento febril, se ele sofre uma hemorragia, ele não determina por si só o aumento de produção sanguínea, como fazemos nas fábricas quando queremos o aumento de produção e criamos os segundos e terceiros turnos.

Ora, se ele não dependente somente de si, para quem ele deveria olhar como o seu tutor, ou seu mantenedor? A resposta natural mais sugerida neste caso seria Deus, mas, como dizer se é Deus se eu reconheço somente a mim, como independente?
Essa é a grande coerência de Nietzsche, ele vem questionar a ilusão da luz, e em sua razão, pedimos licença para resumir em algo assim, como se Deus fosse apenas uma ilusão criada na mente das pessoas, revelando a realidade presente (na Filosofia a realidade é chamada de Estética), um deus morto.

E Nietzsche, dentro de sua realidade vivenciada naquele momento exarava em si a certeza de sua convicção, e, de fato o seu raciocínio tinha certa coerência ao deparar-se com uma Sociedade que via Deus como uma ilusão da Luz, e, não como realidade, pois, para os cristãos, mesmo Jesus a lhes dizer que o Reino dos Céus está no meio deles (Lc 17,21), continuam a comungar a mesma ilusão de Maria Madalena de há dois mil anos, vivendo a chorar, na dor, nas injustiças, dos homicídios, nos adultérios, nas escravidões, o seu Jesus morto:

Maria estava do lado de fora do túmulo, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se e olhou para dentro do túmulo. 12Viu, então, dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha sido posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. 13Os anjos perguntaram: “Mulher, por que choras?” Ela respondeu: “Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram”. 14Tendo dito isto, Maria voltou-se para trás e viu Jesus, de pé Mas não sabia que era Jesus15 (Jo 20,12-15).

Com essa lucidez, Nietzsche matou dois coelhos com uma cajadada só, pois, no primeiro coelho, acertou quando concluiu que o deus da luz ilusória, está morto, pois, os cristãos vivem até hoje a chorar suas escravidões, e não vêem Jesus de pé atrás de si. E, no segundo coelho, Nietzsche, como homem de autonomia limitada, ao declarar a certeza de sua sabedoria independente de Deus, também se juntou aos mortos, assim, tanto os crentes como os ateus estavam mortos, e tanto cristãos como ateus continuaram como escravos, tanto um como outro seguiram errantes na escuridão no caminho da morte: "Vós estáveis mortos em vossos delitos e erros, nos quais andastes outrora, segundo o costume deste mundo, segundo o príncipe que exerce o poder sobre este ar, espírito que agora domina sobre os filhos da incredulidade (Ef 2,1-3).

2. Da preciosa contribuição de Nietzsche para os amigos de Deus

Assim, Nietzsche tem certa razão ao afirmar que aqueles que professam a Deus, professam um deus morto, pois, vêem a Deus como uma divindade sentada num trono, que Jung, descreveu na sua imaginação, como Deus sentado no trono, na hora em que se usa o vaso sanitário para fazer o número 2, e de mau humor com seus filhos desobedientes, com mão de ferro, a castigar os infiéis, e, por isso, vão aos templos, querendo se mostrarem filhos bonzinhos, obedientes, ajoelham, sangram, choram o clamor de piedade de deus, pois assim se vêem como os justos escravos merecedores da liberdade, sem perceberem que continuam escravos, sim Nietzsche e Jung têm razão, a Igreja e o povo são assim mesmo.

Mas, a ilusão de Nietzsche foi que, sendo homem natural e possuindo uma natureza limitada, saiu em devaneios ao aplicar em seu senso crítico relações incompatíveis de conclusão lógica, pois, para concluir o deus morto, valeu-se da Mitologia Grega de Apolíneo e Dionísico, desprezando o senso crítico sobre a Ciência de Deus quando Jesus diz que É: “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). 

Com isso, em uma lógica estrábica, se auto proclamou independente, e, ao se considerar assim, instituía sob uma luz ilusória a sua própria ciência como sendo o deus absoluto, com isso, tornou-se incoerente, pois, sabendo-se ser limitado, proclamava a sua ciência como o novo caminho, um novo deus, a nova ética a substituir a máxima da Verdade que diz que Jesus É: “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). 

Diante da limitação humana, a nova proposta de Nietzsche também se revelou com
Créditos:Visili1316-Pixabay
o, um deus morto, pois a ciência humana com toda a sua tecnologia, não conseguiu criar o natural fenômeno de tornar os cabelos brancos ou pretos, sendo dependente da natureza para isso (Mt 5,36), ou seja, a ciência humana declarada como absoluta por Nietzsche, não tem independência, pois, só cria o artefato, isto é, o artificial, visto que não contém a arte do natural e com isso, ao invés de agregar-se à Natureza, destrói a Natureza, levando as espécies e o próprio homem à extinção.

Aos amigos de Deus, especificamente os cristãos, diante das contradições do Povo de Deus, Jesus propõe que não há uma Igreja perfeita mas pecadora, por isso, como apontou Nietzsche, por isso, não se deve ser rejeitada como faziam os hebreus com seus leprosos, seus estrangeiros, ou a própria Igreja com suas excomunhões, ao invés da separação, e preciso caminhar juntos não devendo haver a divisão, pois, aos olhos da Palavra de Deus, quanto avanço da Humanidade poderia ter ocorrido diante das irresignações de Nietzsche ou Lutero, se eles a exemplo de São João da Cruz, reconhecessem serem apenas um servo inútil, ao invés de envaidecerem como os novos pais da humanidade, estabelecendo vida religiosa a seu modo, ou, da sua própria ciência transloucada.

São João da Cruz, preso por seus próprios irmãos de congregação, não se revoltou, não jugou, pois via em cada um a figura de criaturas errantes que somos, não carregamos em nós a Justiça, isso é a ilusão dos crentes e dos ateus, adorando um deus morto, por isso Jesus adverte os cristãos, eu não vim chamar os justos, isto é, não vim chamar aqueles que se iludem na ideia de que ser agradável a Deus, é pegar a sua receita do maná, ou pão do céu, para através de um ritual entrar dentro de uma forma, untada com óleo fervendo, porque dói na carne, na medida em que esquenta, e atravessá-la com sangue e lágrimas, mas sim, vim  chamar os pecadores, isto é, aqueles que dentro de sua realidade vêem a realidade de Deus, estão em comunhão, como são Amigos, não se vêem como independentes, mas sim, como interdependentes, pois, formam uma equipe que tem hora que acerta e tem hora que erra, impulsionados pela Verdade do Espírito transubstanciado pela Carne (CAT 1373), ou, como se diz nas equipes competentes e hábeis, de “Corpo e de Alma”, ou ainda, com o “Coração e a Mente”.

Assim, Nietzsche, a exemplo de Lutero, teve toda uma razão coerente para a sua luta, mas, confundiu-se ao mover-se pela vaidade pessoal, investir-se de uma crítica destruidora de apontar o Jesus que veio para os justos, e, iludidos que se tornaram homens independentes com seu próprio saber capazes  de transformar os homens em justos, se autoproclamaram o próprio deus, o deus morto, recusando o convite da Prudência para serem Amigos de Deus, e se tornarem interdependentes, integrando-se ao clima organizacional da empresa, que busca sua estabilidade nos mercados marítimos, terrestres e aéreos, isto é, ela busca a sua estabilidade porque ainda não está consolidada, ainda não é perfeita e nem será, ou, como dizem os cristãos, ainda é pecadora pois, o pão que fazem nem sempre parece ser o bolo bonitinho da receita de Deus, ao passo que Deus também aceita o pão que a receita deu errado.

3. Se Jesus está morto na Igreja, Ele está no túmulo?

A exemplo de Maria Madalena, os cristãos vão buscar Jesus no túmulo das Igrejas, e os Anjos perguntam a essa nova geração, o mesmo que perguntaram para Maria Madalena, “Porque choras mulher?”, e fazendo o mesmo que fez Maria Madalena, eles se voltam para trás, vêem Jesus de pé, e não sabem que é Jesus.
Mas como isso acontece? Isso acontece porque a exemplos de seus antepassados, eles se iludem que Deus está sentado no trono, e de mau humor com seus filhos desobedientes, e dizendo estamos no fim do mundo, e por isso, com mão de ferro, passará a castigar os infiéis.

Com essa mentalidade, vão às Igrejas, querendo se mostrarem filhos bonzinhos, obedientes, ajoelham, sangram, choram o clamor de piedade de deus imaginário, que só existe nos ritos, tem que ser assim, ter que ser assado, hoje a missa tem que ser apressada pois todos trabalham, ou, há consulta médica, ou a oração 12 é muito longa, deverá ser a mais curta, ou, os avisos são muitos demorados, pois esse povo não criou nenhum sentido da realidade, estão olhando para o imaginário, para o Deus no irreal, mas, esquecem de voltarem-se para traz nessa hora e ver Jesus de pé.

Tentam usar um raio X no coração para ver Jesus no túmulo do Sacrário, mas os anjos lhes advertem, “Ele não está ai” (Lc 24,6), ou ainda, porque ficam ai olhando para o alto? (At 1,11) Porque quem está lá é o Deus Pai, ele vive na Arca, no Tabernáculo, Jesus como Deus Filho, está de pé, atrás da sua equipe, como o líder eficaz a coordenar as equipes nos trabalhos do mundo, trabalho quer dizer, força, prática, e não ilusão por pregações, por isso ele disse: Eu não vim para ser adorado no altar, eu vim, para salvar aquele que está precisando de mim agora, e convoco a minha equipe a fazer o mesmo: “28Pois, o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos” (Mt 20,28).

O Cristão é chamado a dar a sua vida, isto quer dizer, imitar o Cristo na sua totalidade, Igreja e Povo, e não só povo praticando e igreja pregando, no esforço diário, na simplicidade de resiliente diante do cliente chato, ou do patrão autoritário, sorrir ao triste que perdeu seu ente amado, acolher o ofendido que não teve o seu trabalho reconhecido, ajudar quem tem limitações pela prisão do complexo de inferioridade, juntar forças ao que se sente impotente diante de tanta covardia, pois, tudo isso está a nossa volta, e ao nosso alcance, e na maioria das vezes nos declaramos ocupados, ou, sem tempo, ou que deve ser responsabilidade de outro, por isso, Jesus está atrás de Maria Madalena e não no Tabernáculo: Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser tornar-se grande, torne-se vosso servidor; (Mt 20, 27), e não na meditação, que é para Deus na Arca, que se dá nas celebrações do Senhor, quando os cristãos partilham as maravilhas de Deus, comungam suas experiências de alegria, tristeza, esperança, isto é, a equipe conta como está o jogo, se perdendo, empatado ou vencendo, traçando as estratégias para o avanço e a criação de novas jogadas, na alegria da Amizade comum.

Se somos imperfeitos, cuja nossa justiça se dará somente pelo verdadeiro desejo de em comunidade, e não sozinhos como Nietzsche ou Lutero, se praticar o bem a todos (Hb 10,38), nossa Equipe está pronta para reconhecer que Nietzsche, Jung, Lutero, fizeram boas jogadas, e que a suas indignações foram ouvidas por Deus que lhes propõe a misericórdia como Justiça e não a receita ideal do pão do céu.

Referencias
 
CAT - Catecismo da Igreja Catolica

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